No último texto afirmamos que, para se produzir um bezerro por vaca por ano é necessário fazer estação de monta de no máximo 70 dias.


Resolvido, esse problema, o próximo passo é aumentar a produtividade por hectare das fazendas.


Hoje, para quem vive da pecuária de corte, “fazer as contas” é imprescindível para se manter no negócio. Aqueles que antes diziam que, se “fizessem as contas” não seriam pecuaristas, infelizmente  já não estão na atividade ou, a caminho da saída. Pecuarista, não “quebra” como agricultor, mas vai “derretendo” aos poucos.


Mesmo com a valorização da arroba nos últimos anos, é comum ouvir pecuarista reclamando que o negócio está cada vez pior. A justificativa é que os custos subiram demais e a arroba no valor que anda “não paga a conta”.


O surpreendente é que, ao fazermos as contas do custo para engordar um boi, principalmente, utilizando pouca tecnologia (pasto degradado + sal mineral) concluímos que ele é relativamente baixo e, portanto, a margem sobre a venda é boa, podendo chegar a mais de 30% por animal.


Mas, como explicar este paradoxo de baixa rentabilidade com custo de produção também baixo? O problema não está na margem sobre venda, mas sim, na quantidade de animais que o pecuarista consegue engordar e vender por ano. E não estamos falando somente dos bois gordos, mas também dos animais improdutivos: vacas e novilhas vazias, bezerros e bezerras ruins. Qual o percentual destes animais na fazenda?


Em um sistema de baixa produtividade, a quantidade de animais comercializados no ano não chega a 20% do total do rebanho. Conclui-se então, que o problema é o tal “desfrute” (animais vendidos em relação ao estoque médio anual). Não há margem por boi elevada que sustente um negócio com poucas vendas.


Por isso, é imprescindível diminuir a quantidade de animais improdutivos. Que, em um sistema de cria é representado pelas fêmeas que não estão desmamando um bezerro por ano: vacas e novilhas vazias após a estação de monta e fêmeas em recria que ainda não entraram em reprodução.


Para que seja possível vender todas as vacas e novilhas vazias, a fazenda é obrigada a ter um índice de desmama acima de 67,0% (para cada 100 matrizes expostas à reprodução, 67 tem que desmamar um bezerro). Se este índice for menor, a fazenda não produzirá novilhas em quantidade suficiente para fazer a reposição das vacas vazias, forçando o pecuarista a reter parte destas vacas no rebanho para não encolher em quantidade de matrizes. Só que isso diminui a quantidade de animais vendidos.


Agora, supondo uma taxa de desmama adequada de 75,0% e considerando que todas as novilhas entrem em reprodução aos 24 meses de idade. Para se produzir um bezerro, são necessárias duas fêmeas no rebanho, considerando (vacas + novilhas de 12 meses + novilhas de 24 meses). A única maneira de melhorar esta relação é colocando as novilhas em reprodução aos 14 meses de idade. Isso diminui a quantidade de fêmeas para uma e meia para cada bezerro produzido.


Os desafios para alcançar este objetivo são genéticos e nutricionais.


Geneticamente, as bezerras devem apresentar precocidade sexual para iniciar a vida reprodutiva aos 14 meses e, ganhar peso suficiente para atingir 80,0% do peso adulto no momento do parto, aos 24 meses (400 kg para uma vaca de 500 kg).


Na questão nutricional, é necessário fornecer condições para que a precocidade sexual se expresse e que, o bezerro desmamado por esta jovem matriz seja de boa qualidade. Garantindo ainda, que ela “emprenhe” novamente.


Na tabela 1 comparamos dois sistemas que têm como premissas: área de 1.000 ha, a lotação de 1UA/ha e 75,0% de índice de desmama para os dois sistemas.


O que difere é a idade ao primeiro parto das novilhas: 36 meses para o primeiro e 24 meses para o segundo.


Para diminuir a idade ao primeiro parto para 24 meses, estas fêmeas apresentam um gasto a mais com nutrição de R$685,00, até a sua segunda estação de monta.


Tabela1

Porque o primeiro parto tem que ser aos 24 meses


Como podemos ver na tabela 1, mesmo com um custo por cabeça mensal 26,4% maior, que implica em um custo por ha 46,0% mais elevado, o sistema de 24 meses, produz 34,0% mais bezerros por ha, gera 42,5% mais faturamento por ha e um lucro 33,3% maior por ha.


A pergunta que fica para o criador é: as minhas fêmeas têm genética para parir aos 24 meses? E ele só irá descobrir se têm ou não, oferecendo condições nutricionais para as bezerras atingirem no mínimo 250 kg no início da estação de monta e continuar fornecendo condições para que as prenhes alcancem 370kg no momento do parto.


Mas se o meu rebanho não tem, como selecionar para precocidade sexual?


Apesar da circunferência escrotal nos machos não apresentar correlação direta com a prenhez aos 14 meses, a minha experiência de 23 anos selecionando animais Nelore com um índice que contém 20,0% de peso para circunferência escrotal, permitiu alcançar um índice de prenhez acima de 65,0% sobre o total de bezerras desmamadas nos rebanhos participantes do Programa Qualitas de Melhoramento Genético. Este índice é suficiente para garantir a reposição de matrizes em um rebanho com 75,0% de taxa de desmama.


Já uma característica que tem correlação direta com precocidade sexual é o teor de gordura subcutânea. Quanto mais precoce em “acabamento de carcaça” mais precoce sexualmente será a fêmea.


Além disso, visualmente, notamos que animais mais baixos (pernas mais curtas), tendem a ser mais precoces, tanto em “acabamento” quanto sexualmente.


Bom, se o seu rebanho não apresenta precocidade sexual, recomendamos que você comece a trabalhar para que isso aconteça, pois você não quer entrar na lista dos que estão “derretendo”, não é mesmo?!

 

Fonte: Scot Consultoria