O relatório História do Café das Matas de Minas (1808-2015), elaborado pela Fundação João Pinheiro (FJP), foi entregue na manhã desta sexta-feira, 7 de julho, ao secretário de Estado de Agricultura e Abastecimento (Seapa), Pedro Leitão, e ao diretor técnico do Sebrae-MG, Anderson Costa Cabido. O documento é fruto de um Termo de Cooperação celebrado entre as instituições para embasar o processo de Indicação Geográfica (IG) do produto junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), a fim de agregar valor aos cafés produzidos na região das Matas de Minas.

A Indicação Geográfica é usada para identificar a origem de produtos ou serviços quando o local de produção tenha se tornado conhecido ou quando sua proveniência determine característica ou qualidade específica. O registro permite delimitar a área geográfica e restringir aos produtores e prestadores de serviços da região, organizados em entidades representativas, o uso da IG, o que, mantendo os padrões locais, impede que outras pessoas utilizem indevidamente o nome da região.

Desde a década de 1990 Minas Gerais é o maior produtor de café do Brasil, que também se mantém no topo da lista da produção mundial, com cerca de 45 milhões de sacas/ano. O país é o principal exportador do produto (cerca de 36 milhões de sacas/ano) e o segundo maior consumidor.

A região das Matas de Minas responde, hoje, por aproximadamente 24% da produção do grão no Estado, em 275 mil hectares, cultivados por 36 mil produtores. Destes, aproximadamente 80% possuem entre três e 20 hectares plantados, caracterizando a predominância da agricultura familiar. Todos os 63 municípios da região, localizados nas bacias dos rios Doce e Paraíba do Sul e ocupando 3% do território do Estado, têm em comum o fato produzirem café em altitudes que variam de 600 a 1.200 metros.

Para o Secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Pedro Leitão, a entrega do relatório História do Café das Matas de Minas (1808-2015) é um importante passo para a o reconhecimento da consolidação da região como produtora de café de alta qualidade. “Esse é um material fundamental para se conhecer a história e a evolução da produção cafeeira da região Matas de Minas. O estudo apresenta um material rico, com informações detalhadas, entrevistas, mapas e gráficos. A obra é uma importante fonte de pesquisa e valoriza ainda mais o café das Matas de Minas”, avalia.

De acordo com o Presidente da Fundação João Pinheiro, Roberto Nascimento, a certificação do café das Matas de Minas representa um passo importante da atual política governamental no sentido de incentivar, apoiar e propiciar condições mais adequadas para que o Estado mantenha sua condição de liderança na produção cafeeira. “A produção de café em Minas Gerais tem representado aporte considerável ao PIB mineiro e é necessário e justo que ações visando o fortalecimento do setor incorporem iniciativas que, como esta, insere a população como elemento central das políticas públicas e resulta em um desenvolvimento econômico inclusivo e sustentável”, afirma.

O diretor técnico do Sebrae MG, Anderson Costa Cabido, considera que o entendimento de agregação de valor ao café, até então, tinha um ângulo voltado apenas para a cadeia produtiva, mas que existem outras formas de se promover a valorização do produto. “O que estamos fazendo aqui é agregar valor a uma commodity, embutindo uma dose de riqueza que vai causar um impacto muito positivo”, observa. “Temos trabalhado com o café de outras regiões, do Sul de Minas, do Cerrado, com essa mesma lógica de identidade de origem e a gente vê o quanto isso pode afetar e melhorar a vida não apenas dos produtores, não apenas do Estado enquanto ente, mas das comunidades envolvidas”, completa.

Nessa mesma perspectiva, o Presidente da Fundação João Pinheiro, Roberto Nascimento, acredita que o trabalho elaborado pela Fundação João Pinheiro vem empoderar não só o produto, mas também os produtores. “Ao resgatar a trajetória da produção cafeeira das Matas de Minas, desde os primórdios até os dias atuais, esse estudo levou em consideração não apenas dados e indicadores, mas tratou também de ouvir produtores e especialistas, de maneira a produzir um retrato efetivamente fruto de uma abordagem participativa”, comenta.

Pesquisa histórica - O relatório produzido pela FJP resgata a pré-história do café, particularmente ligada aos indígenas que primitivamente ocuparam aquela região, e à chegada dos primeiros colonizadores brancos, que se deslocam da área mineradora em decadência para os sertões do rio Doce (ou sertões do leste). Na sequência, aborda a chegada do café ao Estado e sua expansão pelo vale do rio Paraíba do Sul para ir, aos poucos, ocupando a região sul e central da Zona da Mata mineira (vales dos rios Paraibuna, Preto e Pomba), até atingir as Matas de Minas.

O levantamento histórico também analisa as crises de superprodução do café e as intervenções governamentais feitas em sua defesa entre 1906 e 1990 com a finalidade de evitar a queda dos preços do então maior produto de exportação brasileiro. Retornando à década de 1970, o documento trata da chegada da praga da ferrugem, que provocou uma verdadeira reinvenção da cafeicultura, impulsionada pela execução de dois planos lançados pelo Instituto Brasileiro do Café: o Plano de Renovação e Revigoramento de Cafezais e o Plano de Pesquisa e Controle da Ferrugem do Cafeeiro, baseados no tripé pesquisa, assistência técnica e crédito rural.

O relatório aborda, ainda, a organização dos produtores, com destaque para o Conselho das Entidades do Café das Matas de Minas, os prêmios obtidos por cafeicultores da região a partir do ano 2000 e a análise dos dados estatísticos da produção cafeeira da região entre 1990 e 2015, período no qual o café das Matas de Minas passa a ser reconhecido internacionalmente por sua qualidade.

De acordo com o diretor de Cultura, Turismo e Economia Criativa da FJP, Bernardo Mata Machado, que coordena o projeto e é coautor do relatório, as indicações geográficas são conhecidas há muito tempo em países com tradição na produção de vinhos e produtos alimentícios, como França, Portugal e Itália. “Por exemplo, o champanhe é único no mundo e refere-se ao espumante produzido na região francesa homônima. Por aqui, temos o queijo canastra e o café do cerrado, entre outros, e agora nos empenhamos na certificação do café das Matas de Minas, o que ampliará sua visibilidade e, consequentemente, trará muitos benefícios aos seus produtores”, explica.