A estiagem mais severa registrada nos últimos anos nas regiões do Jequitinhonha, Mucuri e Norte de Minas Gerais causou prejuízos na pecuária de corte e de leite. Em função da falta de alimento para o rebanho, muitos animais morreram ou foram comercializados e a recomposição do plantel ainda não aconteceu. Diante das incertezas climáticas, foi criado um Comitê Gestor do Projeto Palma Forrageira, que vai incentivar a pesquisa e ordenar ações para que a palma seja mais utilizada como alternativa complementar para a alimentação do rebanho e também como fonte de renda.

De acordo com a coordenadora da Assessoria Técnica da FAEMG, Aline Veloso, várias instituições de educação, pesquisa, extensão e representantes do setor agropecuário já desenvolvem ações voltadas para o cultivo da palma forrageira. Para ordenar as ações e criar um projeto para a cultura foi criado o comitê gestor.

“Objetivo é fazer um trabalho em conjunto, definindo ações mais focadas no desenvolvimento da atividade, que é uma alternativa para diversificar a alimentação de animais, principalmente bovinos. Não é uma alternativa nova, mas a palma, além de atender na alimentação, também pode ser vista como alternativa de renda, com produtores comercializando mudas e até mesmo o produto para criadores vizinhos. Nossa ideia é escrever o projeto e apresentar aos dirigentes de cada instituição participante para focarmos no desenvolvimento, na ampliação e no fomento da atividade”, disse Aline.

Um dos desafios para que a palma se desenvolva de forma efetiva em Minas Gerais, segundo o coordenador técnico regional da Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais), em Janaúba, na região Norte, André Mendes Caxito, é a necessidade de pesquisas que definam os tratos ideais necessários para o bom desenvolvimento da cultura.

Na região de Janaúba, a palma vem sendo cultivada há alguns anos, e vários produtores têm obtido bons resultados. Nos últimos anos, um projeto desenvolvido pela Emater e pela Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado de Minas Gerais) estudou as variedades de palma gigante e miúda que já são cultivadas na região. As mudas foram multiplicadas e distribuídas. Os produtores participantes se comprometeram a distribuir parte do volume produzido para outros, contribuindo para o maior plantio da palma.

“A palma não é a salvação, mas é alternativa para complementar a alimentação do rebanho. É importante consolidar a tecnologia na região e estudar outras variedades que já são cultivadas em outras regiões, principalmente no Nordeste do País, e buscar novas alternativas para o Norte de Minas. A Epamig desenvolveu algumas pesquisas, mas é necessário uma maior avanço nas questões técnicas, como a adubação correta para a cultura, controle de doenças, pragas e plantas daninhas, por exemplo”.

Recursos - Uma das alternativas encontradas para suprir a necessidade de novos estudos foi uma parceria com o Instituto Federal Baiano, Campus Guanambi. Os pesquisadores do instituto criaram projetos conforme a área de atuação e estão em busca de financiamento para a realização das pesquisas. Ao todo foram criados 12 projetos de pesquisas que abordam temas como irrigação, adubação, controle de pragas e de doenças, entre outros.

A coordenadora da Faemg, Aline Veloso, acredita que a organização promovida pelo comitê poderá contribuir para a obtenção de recursos voltados para o desenvolvimento das pesquisas.

“Essa rede que estamos tentando estruturar pode potencializar a busca de recursos. Claro que a gente espera que haja um incentivo do governo estadual, principalmente pelo fato de a Epamig ser uma instituição pública. Esperamos então algum recurso orçamentário para que haja investimentos nos projetos de pesquisa. Mas existem outras instituições, como a própria Embrapa, as universidades e outras fontes como, por exemplo, o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). São muitas ações que podem ser melhor coordenadas e esta é a intenção do nosso comitê”, explicou.

Cultura reduz custos e garante segurança alimentar

A palma forrageira é vista como uma alternativa viável na composição da alimentação dos rebanhos. Por ser mais resistente aos períodos de estiagem, o alimento pode substituir até 40% o uso do milho e do sorgo na silagem. Sem depender diretamente da chuva, a planta serve de alimento para bois, cabras e ovelhas, além de ajudar na hidratação dos animais, já que é constituída por até 90% de água.

De acordo com analista de agronegócios da FAEMG, Caio Coimbra, por sofrer menor com o déficit hídrico e apresentar boa produtividade, o uso da palma também reduz os custos de produção da pecuária.

“O produtor pode conciliar as tradicionais silagens de milho e de sorgo como a palma. Desta forma é possível ter um custo beneficio melhor. É preciso conviver com a seca e a palma é uma segurança de alimento para o gado, em períodos em que produzir outras culturas, como o milho, se torne inviável pela falta de chuvas. A pecuária tem grande relevância na economia destas regiões semiáridas. Por isso, é importante ter alternativas que garantam o alimento do rebanho”, disse Coimbra.