Sidnei Maschio: No fechamento da conta, qual foi o comportamento do preço do boi gordo no mês passado e quais foram os estados que pontearam essa arribada?


Alex Lopes: O comportamento dos preços entre o final de julho e as primeiras semanas de setembro é para ser comemorado pelo pecuarista. A restrição de oferta foi tamanha que, mesmo diante de uma limitação importante na venda de carne, os preços da arroba subiram forte em todo o país.


Em pouco mais de um mês, o preço da arroba subiu, em média, 12,0% nas praças pesquisadas pela Scot Consultoria. Somente em Barretos-SP e Campo Grande-MS, os preços subiram R$21,50 desde o final do julho.


Sidnei Maschio: Alex, cadê o boi de cocho que deveria estar abastecendo o mercado neste período do ano?


Alex Lopes: O mercado deixou claro que faltou boi de cocho este ano. O primeiro giro do confinamento, que é aquela entrega realizada entre julho e agosto, já indicava que seria pouco ofertado.


Desde o começo do ano, as simulações, baseadas nos preços da arroba na Bolsa B3, indicavam que confinar era arriscado. O retorno do investimento projetado era quase sempre pequeno, quando não indicava prejuízo.


Sidnei Maschio: Este novo fôlego do confinamento pode mudar substanciosamente a situação atual da oferta de gado terminado?


Alex Lopes: A situação do confinamento passou a ser interessante financeiramente no começo de agosto, bem depois do período ideal de planejamento da operação. Nesta época, quem pretendia abater animais de cocho em outubro, planejamento e a operação precisaram ser realizadas quase ao mesmo tempo.


Ou seja, a melhora na situação começou “em cima da hora”, o que não deve dar condição para que uma enxurrada de animais de confinamento chegue ao mercado.


Sidnei Maschio: Até agora, a alta no preço do boi foi sustentada exclusivamente pelo aperto na oferta de animais pra abate. E o consumo, quando é que vai melhorar, Alex?


Alex Lopes: Esta semana, depois de muito tempo, tivemos uma melhora nos preços da carne com osso e sem osso. A dificuldade na compra de matéria-prima mantinha os estoques de carne regulados. A entrada do pagamento de salários, associado ao feriado, trouxe alguma melhora nas vendas de carne e trouxe reajuste ao preço dos cortes. Aparentemente, uma alta pontual.


Mas, recentemente tivemos boas notícias sobre recuperação da economia. O PIB do segundo trimestre cresceu, surpreendendo todo o mercado. Isso, associado à redução no endividamento das famílias, queda forte da inflação e da taxa básica de juros, além da melhora no saldo de empregos, dão alguma esperança para melhora de consumo no segundo semestre.


Sidnei Maschio: Desde que a arroba voltou a subir, o que aconteceu com o preço da carne no atacado? Como está a margem de comercialização dos frigoríficos?


Alex Lopes: A carne no atacado não acompanhou as valorizações recentes da arroba. Isso fez a margem das indústrias recuar de 43,0%, no final de julho, para os atuais 20,0%.


Sidnei Maschio: Dá pra casar uma aposta de que o preço do boi gordo não cai mais este ano?


Alex Lopes: É difícil afirmar isso. A variável demanda ainda é incerta. Portanto, por mais que, ao que tudo indica, a oferta curta deverá manter o mercado firme nos próximos meses, sabemos que é preciso uma resposta da demanda para sustentar esse comportamento.


Sendo assim, quem tiver boi para vender, a melhor coisa a fazer é ir comercializando, aproveitando o bom momento de preços.

 

Fonte: Scot Consultoria