O Giro do Boi desta quinta, 29, tratou de uma doença reprodutiva que pode diminuir em até 44% a taxa de desfrute de novilhas desafiadas à reprodução, a neosporose, que traz prejuízos para o manejo reprodutivo das propriedades e, de maneira geral, não tem como ponto comum nas fazendas brasileiras a prevenção. Até por isso, incide sobre 15% do rebanho nacional, segundo estimativas da Embrapa.

Para falar sobre o tema, o programa lançou convite ao médico veterinário e pesquisador da Embrapa Gado de Corte Renato Andreotti, mestre e doutor em ciências biológicas e autor do artigo “Associação entre soropositividade para Neospora caninum e o desempenho reprodutivo de novilhas de corte no Pantanal Sul-Mato-Grossense, Brasil.”, em que aponta a já mencionada redução de 44% na taxa de desfrute de novilhas soropositivas.

“A neosporose causa um percentual de prejuízo todo ano, principalmente em gado de corte. E isso acaba sendo um prejuízo silencioso que o produtor não vê porque fica misturado com aquele fundo de aborto que o pecuarista não consegue resolver. Entre 1% e 2% do aborto da fazenda pode estar relacionado com a neosporose. Então mesmo aumentando a qualidade sanitária do rebanho, ele sempre vai ter nesse bolo perda envolvida com a doença”, apresentou Andreotti.

E segundo o veterinário, o impacto é ainda maior em fazendas que investem mais em tecnologias, principalmente as relacionadas à reprodução. “Quanto maior o nível tecnológico, maior é o prejuízo causado pela neosporose no contexto daquele sistema. Ou seja, quanto mais o produtor investe naquele rebanho, se ele não controlar a neosporose, seu prejuízo está aumentando. A dica para quem investe em tecnologia no rebanho é que tem que controlar a neosporose”, advertiu Andreotti.

“A neosporose contaminou o rebanho num nível de 15% dos animais no Brasil inteiro. O que significa isso? Que a situação é endêmica no país. Nós temos o problema e se quisermos reduzi-lo, temos que saber qual o custo benefício pra fazer. E como pensar nisso? Analisando o impacto em cada propriedade a partir do diagnóstico e reduzir, por meio de medidas profiláticas, esse impacto”, avaliou Andreotti. O veterinário afirmou que há cura para a doença em um animal, mas que o custo disso não compensa, restando ao pecuarista trabalhar de maneira profilática, ou seja, com a prevenção da ocorrência.

Uma das formas de contágio da neosporose em bovinos é o contato com os cães, que são hospedeiros definitivos da doença. Os cachorros eliminam cistos do protozoário em águas e em outros locais próximos dos alimentos dos bovinos, mas se engana quem pensa que se livrar do animal de estimação resolve o problema. “Pensar em eliminar o cão é um grande erro. A gente, na verdade, precisa controlar doença no cão e fazer o manejo adequado do relacionamento do cão com o sistema produtivo”, indicou o pesquisador, alertando que outros canídeos silvestres também transmitem a neosporose.

Esta seria a chamada forma de contaminação horizontal. Outra forma de propagação da neosporose em um rebanho é a contaminação vertical, que passa da vaca para o feto. Novilhas ou vacas recém-contaminadas tem uma grande incidência de abortos ou, caso nasça o bezerro, há uma grande probabilidade de nascer um animal infectado. Os touros também podem ser fontes de contaminação. Por isso, Andreotti alerta para que os compradores de genética, como sêmen, conheçam o trabalho sanitário das centrais responsáveis pela coleta em reprodutores.

Além de fazer a triagem em animais chegados recentemente na fazenda ou de materiais adquiridos, o produtor pode detectar a neosporose investigando as causas de abortos em sua propriedade, pois, de acordo com Andreotti, a possibilidade de a doença estar entre as causadoras do problema é muito grande.

 

Fonte: Giro do Boi