Desconfiança e tensão no mercado do boi gordo

Neste momento, não há fatores nos quais os preços do boi possam se apoiar para sustentação.

A tendência de mercado frouxo, que já vinha sendo verificada antes dos acontecimentos da última semana, ganhou força com a tática praticamente unânime das indústrias de redução ou até mesmo retirada total das compras.  

O “efeito desconfiança” que gira em torno da JBS, com consequente sobra de gado para os demais frigoríficos, reforça o plano de mercado citado.

Atenção especial deve ser dada às regiões onde há maior participação ou até mesmo amplo domínio da empresa nos abates.

No fechamento de hoje, vinte das trinta e duas praças pecuárias pesquisadas pela Scot Consultoria tiveram queda nas referências.

Não houve alteração nas referências no mercado atacadista de carne bovina com osso, porém, a tendência do levantamento aponta para quedas em curto prazo.

O GLOBO: Temendo boicote aos produtos da JBS, supermercados pedem que concorrentes aumentem produção
As principais redes de varejo do país já iniciaram uma espécie de alerta na indústria de alimentos em razão da crise da JBS e buscam, entre os concorrentes da empresa, produtos alternativos para repor as gôndolas. A avaliação é que a crise do grupo — deflagrada depois que a delação de Joesley Batista envolveu o presidente Michel Temer — pode ter impacto na percepção dos consumidores. De acordo com executivos dos principais supermercados, os concorrentes da companhia já foram avisados para aumentar a produção. O medo é que o boicote às marcas do frigorífico — como Friboi, Seara e Vigor, entre outras — aumente e se reflita nas vendas dos varejistas. 

Nas conversas, as redes já contactaram, na área de carne in natura, os frigoríficos Minerva e Marfrig, ambos com atuação nacional. Para a Região Norte, o alerta foi dado ao Frigon. Na Região Centro-Oeste, a conversa envolveu o Frigol. No segmento de carnes processadas, BRF, dona de Sadia e Perdigão; Aurora e cooperativas do Paraná e Santa Catarina já foram avisadas para aumentar a produção.

— Uma cliente virou para mim e disse que não iria comprar carne da Friboi. Se o cliente diz que não quer, o supermercado tem de atender. Por isso, já estamos alertando a indústria para aumentar o volume de produção, porque eles precisam se preparar. A BRF não vai conseguir aumentar a produção de carne de hambúrguer do dia para a noite. Estamos chamando os principais concorrentes e alertando, porque a JBS deve ter queda nas vendas em vários segmentos — disse o diretor de Vendas de uma das maiores redes de supermercados do Brasil com presença no exterior.

Esse alerta vai além do setor de carnes e envolve ainda o segmento de laticínios, no qual a JBS é dona das marcas Vigor, Itambé, Danubio e Leco. Quem também foi acionada pelo varejo foi a francesa Lactalis, dona das marcas Parmalat, Elegê e Batavo.

— A Lactalis é uma das que têm atuação nacional. Estão sendo ainda acionadas outras empresas regionais. O que estamos fazendo é comunicar aos gerentes das lojas para ficarem atentos ao comportamento dos clientes, pois as marcas do grupo JBS estão sob risco de boicote. Nas redes sociais e nos grupos de WhatsApp há várias listas com todas as marcas do grupo — destacou esse executivo.

Segundo fontes, todas as grandes redes do país como Carrefour, Casino (dono do Pão de Açúcar e Extra) e Walmart estão tomando ações para se precaver em relação ao possível agravamento da crise da JBS. O Pão de Açúcar já solicitou esclarecimentos à companhia. A empresa disse que pediu informações “acerca das recentes notícias divulgadas, no que diz respeito à relação das empresas fornecedoras e aos fatos mencionados, bem como as salvaguardas adotadas pela companhia e a implementação de mecanismos de compliance e integridade”.

EMPRESAS ATUALIZAM CONTRATOS

Procurado, o Walmart disse que está acompanhando o caso da JBS atentamente. O Carrefour informou que “não tolera nenhuma prática ilícita e tem como princípio fundamental o combate à corrupção em todas as suas formas” e lembrou que aguarda o desfecho do caso.

— Está todo mundo falando com os concorrentes da JBS, fazendo levantamentos de quem pode atender mais rápido caso o boicote aumente. Ninguém quer perder consumidor ou ter sua imagem arranhada com um escândalo desses — disse o diretor de outra rede de varejo. — É possível iniciar desconto com as marcas da JBS como forma de estimular as vendas.

Além dos supermercados, a reação já começou entre as redes de fast-food. O Bob’s, que é controlado pela holding BFFC, já está avaliando cancelar o contrato com a JBS. A empresa disse que estuda as medidas cabíveis e lembrou que trabalha com os principais fornecedores de proteína animal do país. O McDonald’s, informou um executivo do setor, tem contratos, além da JBS, com as rivais BRF e C.Vale. A rede disse que acompanha o caso.

Para o consultor Ulysses Reis, as redes de varejo não querem associar seu nome a casos de corrupção. Segundo ele, há ainda uma preocupação com a legislação, já que muitas dessas empresas, por terem algum tipo de envolvimento com o mercado acionário dos EUA, têm de se submeter à rígida legislação anticorrupção dos EUA:

— A preocupação é com a imagem entre os consumidores. Hoje, 40% das compras começam motivadas nas redes sociais. Então, se há um movimento de boicote ou notícia negativa, 95% desse grupo, dizem as pesquisas, tendem a não comprar.

A atual crise da JBS já tem feito empresas atualizarem seus contratos com seus fornecedores. Isso porque grande parte das companhias ainda não incluiu cláusulas referentes à Lei Anticorrupção, que começou a vigorar em 2014, dizem advogados ouvidos pelo GLOBO.

— A lei traz uma lista de atos lesivos que passaram a exigir cuidado adicional com a contratação de fornecedores. As empresas estão correndo para atualizar esses contratos. É, de fato, uma preocupação das empresas — disse Fabíola Cammarota, sócia do Souza, Cescon, Barrieu & Flesch Advogados.

Segundo Patrícia Agra, sócia do L.O. Baptista Advogados, o programa de compliance entre as empresas brasileiras ainda está em desenvolvimento no Brasil. O escândalo da JBS, disse, vai forçar as empresas a investirem mais nesses programas:

— Hoje, as empresas quando contratam os fornecedores não perguntam qual é o programa de compliance interno, por exemplo. O assunto ainda não está difundido.

Salim Jorge Saud Neto, coordenador do MBA de Compliance da Fundação Getulio Vargas (FGV) Direito Rio, as empresas podem suspender os contratos com fornecedores envolvidos em ilícitos se entenderem que isso trouxe risco à sua operação, como prejuízo financeiro ou até mesmo de imagem:

— Em muitos casos não é preciso uma decisão judicial para suspender o contrato. O dano público já é suficiente.

Analistas de mercado temem o impacto de um boicote sobre o balanço da empresa:

— Estamos vendo nas redes sociais e até nos supermercados um movimento de boicote aos produtos da empresa. Esse é um risco altíssimo e intangível. Para uma companhia que está com nível tão alto de alavancagem, que conseguia quitar suas dívida de curto prazo por causa do fluxo de caixa, essa é a principal preocupação — disse Alexandre Wolwacz, do Grupo L&S.

Para o diretor de uma rede varejista, o boicote dos consumidores vai afetar toda a cadeia produtiva, incluindo produtores de gado e leite:

— Os produtores vendem sua produção futura aos frigoríficos. E isso pode ser feito até um ano antes. Ou seja, a crise na JBS vai ter reflexos por um bom tempo.

A reação  dos pecuaristas já começou

Fornecedores de gado do Mato Grosso, estado com maior rebanho comercial do Brasil, buscam alternativas à JBS. Eles temem que a empresa passe a ter dificuldades financeiras para honrar as compras de gado. Metade do gado criado no Mato Grosso é vendido para frigoríficos da JBS, segundo a Acrimat, associação que reúne os pecuaristas mato-grossenses. A empresa tem 11 das 24 unidades de abate no estado.

Há cerca de três semanas a JBS passou a exigir que suas compras fossem pagas a prazo, o que gerou preocupação entre fazendeiros. Segundo a empresa, em 90% das praças onde atua, o pagamento à vista já não era aceito e isso foi estendido ao Mato Grosso. Para driblar essa decisão, a Acrimat pediu ao governo estadual que isentasse os pecuaristas da alíquota de 7% de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), recolhida quando o gado é abatido em outro estado. Além disso, solicitou que o governo estadual faça adesão ao Sisbi, sistema de inspeção de produtos de origem animal do Ministério da Agricultura, com o objetivo de padronizar os critérios de fiscalização da atividade em esferas municipal, estadual e federal.

— Hoje, se o estabelecimento é fiscalizado por instituição municipal, ele só pode vender para o município onde está. Se a instituição é estadual, só pode vender para o estado. Com a padronização, os pecuaristas poderão vender para todo o território brasileiro e até para o exterior, criando alternativa para o produtor — diz o diretor-executivo da Acrimat, Luciano Vacari.

Procurada, a JBS informou “que as operações em suas 300 fábricas em cinco continentes continuam no seu ritmo normal”. 

Suíno vivo: Demanda por animais reduz e preços caem
Por Larissa Albuquerque

As cotações do suíno vivo estão em queda nesta semana. Em Santa Catarina a cotação recuou R$ 0,10 deixando a nova referência em R$ 3,70/kg.

No Rio Grande do Sul a cotação também caiu R$ 0,06. A pesquisa semanal de preço realizada pela ACSURS (Associação dos Criadores de Suínos do Estado), apontou referência de R$ 3,84/kg, contra R$ 3,90/kg praticado na semana anterior.

Na visão do presidente da ACCS (Associação Catarinense dos Criadores de Suínos), Lozivanio Luis de Lorenzi, o período de final de mês, aliado o sentimento de incerteza que tomou conta do país na última semana, colaboraram com o cenário baixista. “O prejuízo para o setor é grande, principalmente para os independentes, que já tiveram de arcar com os altos custos de produção no ano passado."

Além disso, "a queda nos preços da carne bovina também tende a acirrar a concorrência em relação às demais proteínas de origem animal", destaco o analista, Allan Maia, da Safras & Mercado.

Para os próximos dias não são esperados reajustes dos preços do animal vivo ou da carne.

Frango vivo: Mercado com viés de baixa nesta semana
Por Larissa Albuquerque

A fraca venda de carnes na segunda quinzena deste mês prejudicou a composição dos preços do frango vivo nas granjas.

Os preços do frango vivo iniciaram a semana mantendo as cotações inalteradas. Em Minas Gerais a média das negociações com o animal vivo está em R$ 2,50/kg. Já em São Paulo os preços permanecem inalterados a mais de vinte dias, também em R$ 2,50/kg.

"Para essa segunda metade de maio a tendência é de uma queda nas cotações, até mesmo pelo fato da oferta de carne bovina estar crescendo no mercado interno, ampliando a concorrência com a carne de frango", destaca o analista, Fernando Iglesias, da Safras & Mercado.

Segundo colaboradores do Cepea, "a pressão vem da fraca demanda interna, que não tem conseguido absorver a atual oferta da proteína". O Centro acrescenta que o fraco desempenho das exportações também colabora para cenário atual de oferta excedente no mercado interno.

“O alento é que o custo de produção segue ajustado com a oferta mais abundante de milho e farelo de soja, o que garante rentabilidade aos produtores”, destaca o analista da Safras & Mercado, Fernando Iglesias.

Custos

Segundo levantamento de custo realizado pela Embrapa Aves e Suínos, em abril o ICPFrango/Embrapa recuou 2,83% em relação ao mês anterior. Na composição dos custos o maior recuo ocorreu na nutrição, com queda de 3,08%. No acumulado do ano o ICPFrango decresceu 13,96%.

 

Fonte: Scot Consultoria