O pecuarista que atrasa a adubação de sua pastagem está deixando de produzir ao menos 2,9 arrobas por hectare ao ano. Esta foi a afirmação do professor da Esalq-USP Moacyr Corsi, engenheiro agrônomo, mestre, doutor em ciência animal e pastagens e pós-doutor por duas universidades estrangeiras. O número foi passado por Corsi ao repórter Marco Ribeiro em entrevista exibida nesta quarta, 25, no Giro do Boi.

Segundo Corsi, o pecuarista, de forma geral, está começando a aplicar tecnologia e a coletar dados, mas ainda os interpreta incorretamente. Uma destas interpretações equivocadas diz respeito à adubação de pastagens. Acontece que, dentro de diferentes níveis de aplicação de fertilizantes nos pastos, de zero até 300 quilos por hectare, a relação entre produtividade e rentabilidade do processo é difícil de ser percebida pela grande variação. “Mas quando analisamos dados a partir de uma adubação de 160 quilos por hectare, a relação da produtividade e rentabilidade é cada vez mais alta, ou seja, o que dá mais segurança no investimento porque chega a ser 73% maior a possibilidade de demonstrar a relação entre rentabilidade por meio da produtividade”, afirmou. “Nós precisamos ter dados para o produtor ter mais confiança em seu trabalho, conseguindo produtividade maior com rentabilidade”, acrescentou.

Mas a tentativa de passar aos pecuaristas de todo o país esta relação entre renda e produtividade ainda é missão complicada, pois, segundo o professor, trata-se de um tabu. “Existem muitas interações (do adubo para pastagem com a terra) para explicar produtividade, ou resposta econômica desta adubação. Mas podemos garantir que à medida que o pecuarista vai adubando e trabalhando melhor o pasto através da taxa de lotação indicada e relação com eficiência do pastejo, a resposta econômica, o retorno é crescente”, detalhou.

PROJETO CANIVETE

De acordo com Moacyr Corsi, de fato ainda não se conhece todo o potencial econômico da adubação de pastagens, mas em um estudo realizado na região de Rondonópolis, no Mato Grosso, em propriedades integrantes do Projeto Canivete, a aplicação de fertilizantes em pastagens já chegou aos 320 quilos por hectare e os níveis de produtividade e lucratividade ainda dão respostas seguras. “Não atingimos um nível máximo. A pergunta é: qual será? Estamos na metade do caminho. Sabe-se, pela literatura, que esse nível pode dar resposta com 500 a 600 quilos de adubação por hectare”, estimou.

PONTO DE ATENÇÃO

Mas para desfrutar de todo o acréscimo de produtividade – e renda – que a adubação oferece, o pecuarista deve estar atento para o calendário das aplicações. Um atraso de 14 dias dentro da janela de adubação pode fazer com que o ele deixe de produzir quase três arrobas por hectare. “Eu deixo de ganhar 2,9 arrobas por hectare só porque eu atrasei 14 dias”, frisou, ainda usando informações coletadas no Projeto Canivete. “É uma prejuízo muito grande. Num sistema convencional em que o pecuarista produz cinco @/ha/ano, perder 2,9@ por causa de 14 dias não é nem possível imaginar que conta é essa”, alertou.

COMO COMEÇAR

O professor da Esalq-USP disse que quando começou o trabalho de adubação na área experimental da universidade em Piracicaba-SP, este era desenvolvido em apenas 2% de todo o pasto, o que correspondia a 1,4 hectare. “Não é aonde a gente quer chegar. Nós estávamos querendo conhecer o trabalho”, lembrou Moacyr. “Ocorre que quando a área é menor, você aprende mais rápido porque conhece aquilo que é necessário. Você começa pequeno, com alguma coisa que cabe no bolso, se dedica àquela área porque ela vai mudar todo o sistema de produção. Então a mudança principal é de atitude, aceitar tecnologia e perder o medo de aplicar. Desta maneira, vamos fazendo uma pecuária sustentável, permitindo retorno econômico semelhante ao de outras atividades”, resumiu Corsi.

 

Fonte: Giro do Boi